quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Atrás da porta


Quando olhaste bem nos olhos meus,
E o teu olhar era de adeus.
Juro não acreditei.
Eu te estranhei, me debrucei,
sobre o teu corpo e duvidei.
E me arrastei ,e te arranhei .
E me agarrei nos teus cabelos .
Nos teus pêlos, no teu pijama
Nos teus pés, ao pé da cama..
Sem carinho, sem coberta.,
No tapete atrás da porta,
Reclamei baixinho.
Dei pra maldizer o nosso lar,
Para sujar teu nome te humilhar.
E me vingar a qualquer preço.
Te adorando pelo avesso,
Pra mostrar que ainda sou tua.
Só para mostrar que ainda sou tua...

Chico Buarque*




Ela era assim, meio anjo e meio demônio.
Gostava de desafios e desafiava forças desconhecidas.
Louca menina ou menina louca?
Os dois.
O seu mundo era um universo particular.
Devaneios guiavam seu destino e suas fraquezas.
Mas quem não as tem?
As vezes compartilhar um sonho requer mais que mera divisão.
Dualidade de personalidade?
Não!
Mas ela sempre se perguntava até onde aquele caminho poderia levar.
Nunca encontrou a resposta.
Muitos questionamentos rondavam aquela menina, mas era preciso seguir.
Seguir sozinha.
Abandonar planos, conquistas, um amor verdadeiro.
O coração hoje sangra, não há mais alegrias , palavras doces que iam e vinham, tantas pequeninas coisas que foram partilhadas.
Ela não é má. Ela só não consegue se fazer entender.
Ela ainda sonha com ele , ainda o busca em velhos escritos que vão permanecer ali, guardados.
Pedaços de histórias criadas por dois personagens distintos, mas que em algum momento se reconheceram um dentro do outro. Meras blasfêmias o destino havia prometido. Um sonho lindo pintado numa tela solitária em meio ao deserto que sempre os rondou.
Não há como se construir castelos em montes de areia, na primeira chuva, ele vem ao chão.
Quando o sonho acaba, se fica com aquela nostalgia boa, e se tenta voltar pra ele de qualquer maneira.
Ela sabe porém, que depois de despertos, eles nunca mais voltarão a sonhar as mesmas coisas.
O vazio frio da solidão a espera, e ela teima, tenta se agarrar a qualquer resquicio do passado, mas sabe a ventania agora é intensa e vai acabar derrubando a sua fortaleza.
Pobre menina fraca, covarde, se eu estivesse no lugar dela eu teria feito as coisas de outra maneira.
Mas não se pode julgar os atos de fraqueza alheios, todos nós os temos.
Resta a ela, ver os dias passarem, as folhas caírem, a primavera que um dia foi sua vida dar passagem ao outono, até que por fim o inverno recaia sobre ela.
Vontade de gritar e pedir socorro ela tem, mas não há mais ninguém lá para ajudar.
Um dia quem sabe o sol não volta a brilhar por aqueles lados e a fazem levantar daquele mórbido breu e continuar seguindo a sua caminhada???
Nada impede o destino de cumprir o seu papel.